Se comer fosse uma ação apenas fisiológica com o único objetivo de nutrir o corpo e fornecer a ele todo “combustível” necessário para nossa sobrevivência, talvez não teríamos tantos problemas relacionados ao consumo excessivo de alimentos.
O fato é que comer é uma ação movida por necessidades fisiológicas e também psicológicas, envolvendo as questões emocionais, o que o torna complexo e fonte de muito sofrimento. Busca-se por comida por diversos motivos, físicos, emocionais, sociais.
Comemos por fome, mas também por carência, comemos para comemorar uma alegria ou para recompensar um dia difícil, comemos para “afogar as mágoas” e também para combater ansiedade, para nos sentirmos aceitos numa roda de amigos ou por medo de desagradar os outros com uma possível recusa. E comemos muito por total falta de consciência.
Perder o controle diante de um quadro tão vasto de razões para abrir a geladeira é muito comum, no entanto não é algo que deva ser negligenciado.
O comer exageradamente pode levar a quadros de compulsão que por sua vez podem conduzir ao desenvolvimento de transtornos alimentares.
E mesmo que não se chegue a esse extremo, provavelmente te fará levar um susto cada vez que subir na balança, sendo que a cada progressão do ponteiro sua autoestima pode regredir proporcionalmente.
A compulsão é entendida como imposição interna irresistível que leva o indivíduo a realizar determinado ato ou a comportar-se de determinada maneira. Inicia com um desejo intenso e a falta de controle para conter o impulso. É um comportamento que vai sendo fortalecido pelas recompensas que promove.
Quando a pessoa come compulsivamente, ela está satisfazendo seu desejo intenso e proporcionando a si um prazer excessivo, mesmo que momentâneo, pois após o episódio, geralmente a pessoa é acometida pelo sentimento de culpa e frustração diante de sua falta de autocontrole.
O transtorno do comer compulsivo, diferente do que ocorre na bulimia, não envolve comportamentos compensatórios, nem purgativos, como de provocar o vômito, após o ato compulsivo, no entanto gera culpa, vergonha e ganho de peso.
Com relação à causa, não há causas específicas, ela pode ser multifatorial, podendo se manifestar em decorrência de transtornos depressivos (e podem causá-lo, também), transtornos ansiosos (bastante comum), inabilidade de lidar com as próprias emoções, baixa tolerância à frustração, cultura familiar e até uma vida insatisfatória.
Sim, a falta de satisfações nas mais diversas áreas da vida (relacionamentos, trabalho, família, lazer, estudos…) pode fazer com que a única fonte de prazer e satisfação seja perder o controle diante da comida.
E considerando que comer é um ato que gera prazer, acaba por reforçar essa dinâmica. Alguns alimentos se tornam ainda mais favoráveis nessa busca, como carboidratos simples, açúcares, devido sua ação nas áreas de recompensa cerebral, favorecendo essa comilança desenfreada.
Se você está se identificando com o que foi exposto, precisa refletir sobre os gatilhos que estão te levando a ter esse comportamento e buscar estratégias para superá-los.
Se isso está sendo causado por ansiedade, precisa buscar outras maneiras de lidar com esta, se é por depressão, um tratamento se faz necessário, se é por inabilidade de administrar suas emoções, terapia e coaching podem lhe ser úteis, se é por falta de outras fontes de satisfação, trate de buscá-las.
O que não deve é deixar a compulsão ir ganhando força, porque as conseqüências podem ser danosas. Saber comer, adquirir autocontrole e poder usufruir de diversos momentos de prazer, tendo ou não comida é fundamental para uma vida com qualidade.
Jamille Secchi – Psicologia e Coach Fitness – CRP/SC: 12/04393